O preço de carros usados ganhou destaque no Brasil à medida que os valores dos modelos zero-quilômetro se tornaram cada vez mais inacessíveis.
Para a classe média, o seminovo deixou de ser apenas uma opção e virou a principal alternativa para manter a mobilidade.
A diferença de valores entre novos e usados, somada ao custo elevado de financiamento, seguro e manutenção, impulsionou essa migração em massa.
Hoje, o mercado de usados concentra a maior parte das transações e se consolida como a solução mais viável diante da realidade econômica do país.
Motivos que impulsionam a migração da classe média
Preços elevados dos carros zero-quilômetro
Os preços dos carros novos no Brasil ainda estão em níveis muito elevados, apesar de uma leve redução recente.
Por exemplo, um Renault Kwid, que custava aproximadamente R$ 37 mil em 2019, hoje ronda os R$ 64 mil, quase o dobro do valor anterior.
Essa alta torna o financiamento e a aquisição praticamente inviáveis para boa parte da classe média.
Mercado de usados ganha espaço, números expressivos
Segundo dados da Fenabrave, em 2024 mais de 15.8 milhões de carros usados foram vendidos, enquanto veículos 0km tiveram mais de 2.6 milhões de unidades comercializadas.
Ou seja, esses números mostram que aproximadamente 8 a cada 10 carros vendidos no Brasil são veículos usados.
Esse dado evidencia claramente que o mercado de seminovos vem ocupando posição central nas aquisições da população.
Vantagens da compra de usados para classe média
Desvalorização mais lenta e custo-benefício
Carros usados geralmente apresentam preços mais acessíveis.
A depreciação de um carro novo nos primeiros anos pode variar entre 10% e 30% ao ano, enquanto modelos seminovos tendem a perder valor mais lentamente.
Isso torna o semi-novo muito mais atraente do ponto de vista financeiro.
Acesso facilitado através de financiamento ou entrada menor
A classe média muitas vezes não consegue comprovar renda suficiente para financiar um zero‑km.
Já na compra de usados, os valores mais baixos permitem entradas menores e planos de pagamento mais compatíveis com a renda disponível.
Desafios e cuidados na compra de carros usados
Risco de seleção adversa
No mercado de usados, existe o fenômeno da “seleção adversa”: compradores não têm a mesma informação sobre o histórico e condição dos carros, o que pode levá-los a adquirir veículos de qualidade inferior, enquanto os carros de melhor estado ficam fora de negociação.
Isso exige pesquisa cuidadosa e, idealmente, inspeção técnica.
Mercado aquecido também pressiona preços dos usados
Apesar das vantagens, os preços de usados e seminovos também aumentaram significativamente nos últimos anos.
Entre os fatores estão a alta dos preços dos novos e o envelhecimento da frota, o que mantém a demanda elevada e pressiona os valores dos usados.
Cenário brasileiro: barreiras estruturais
Carro é um bem caro no Brasil
O Brasil está entre os países mais caros do mundo para comprar e manter um carro.
O custo anual chega a ser 441,89% do salário médio anual, ou seja, é necessário quase quatro vezes esse valor para cobrir aquisição e manutenção.
Isso agrava ainda mais o papel dos carros usados como alternativa.
Lucro Brasil e altos preços
Além de impostos e custos de produção, o conceito de "Lucro Brasil" aponta que as margens elevadas das montadoras locais são fatores que encarecem o preço dos carros novos, tornando o mercado brasileiro especialmente oneroso para o consumidor.
Como se orientar ao comprar um carro usado
1. Verificar histórico e quilometragem: carros com baixa quilometragem tendem a demandar menos manutenção e apresentar menos falhas.
2. Avaliar o custo total: alguns modelos com menor consumo, seguro, desvalorização e manutenção podem ser mais vantajosos, mesmo se o preço inicial for um pouco maior.
3. Consultar FIPE e ferramentas de mercado: plataformas como Tabela FIPE e sites como WebMotors oferecem um panorama de preços de usados e novos, ajudando na pesquisa.
4. Visita técnica ou vistoria: importante para evitar surpresas negativas com veículos com histórico problemático ou em condições ruins.
Conclusão
Diante dos preços impraticáveis dos carros zero‑quilômetro, a classe média brasileira tem se voltado cada vez mais para o mercado de seminovos e usados.
A migração não é apenas uma opção, mas muitas vezes a única alternativa possível para continuar vivendo com mobilidade.
Embora o preço dos carros usados tenha subido, ainda representa a melhor relação entre custo e benefício, especialmente quando se escolhe o veículo com cuidado.
Essa tendência reflete realidades econômicas e estruturais: alta dos preços, barreiras de financiamento e custos elevados de manutenção e impostos, somados a margens de lucro elevadas no mercado de veículos novos.
Apesar dos riscos, como a seleção adversa, com pesquisa e cautela, o consumidor de classe média ainda encontra no mercado de usados uma solução viável para realizar o sonho da mobilidade motorizada.
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