Um dos mais importantes desafios dos pequenos
pecuaristas é aumentar a produção de leite. Entre os obstáculos
competitivos estão o tamanho da propriedade (geralmente limitado), a seca (que
diminui a quantidade de alimentação) e o baixo desempenho do gado doméstico,
reproduzido de forma espontânea. Para mudar este quadro, produtores de Italva participaram
esta semana do curso sobre inseminação artificial do gado, organizado por meio
de parceria entre o Programa Rio Rural, a Emater-Rio e a Empresa de
Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio). A inseminação artificial promove o melhoramento genético
do rebanho, pois as vacas recebem sêmen de touros de raças com alto desempenho
produtivo, geralmente europeias. “Com uma boa genética, as vacas têm uma
conversão melhor, pois conseguem transformar o alimento em leite com maior
facilidade. Resumindo: produzem mais”, explica Wagner Nunes, técnico da
Emater-Rio.
Campo como sala de aula
Durante três dias, 17 produtores tiveram aulas teóricas e
práticas na Fazenda Experimental, da Emater-Rio, em Italva. O curso, ministrado
pelo pesquisador da Pesagro-Rio, Pedro Afonso Alves, se baseou no padrão
estabelecido pela ASBIA, que possui regras para manuseio do sêmen e manejo dos
animais. O trabalho de inseminação artificial é feito em dupla. O
ajudante é responsável pela separação do material genético, enquanto o
inseminador é quem aplica o sêmen no útero da vaca por meio de uma pipeta
(pequeno cano). “No início é complicado adotar a técnica, mas com a repetição
aqui no curso, fica mais fácil”, comenta Patrícia Abelha, que ajuda o marido a
cuidar de um curral com 35 vacas. “Planejamos diminuir a quantidade do rebanho,
mas produzir mais leite. Isso só será possível com a inseminação”, completa.
De acordo com Alves, um dos pontos fundamentais para o
sucesso da inseminação é a identificação do cio. São apenas 12 horas em
que a vaca está preparada para receber o material genético. É preciso que o
insemidor esteja atento aos sinais físicos como cauda erguida e falta de
apetite.
Vantagens da inseminação
A inseminação artificial promove melhoramento genético a
baixo custo, pois as doses de sêmen podem ser encontradas no mercado a partir
de R$ 20. Outro ponto positivo é a padronização do rebanho. “Os touros
superiores geram vacas especializadas. Com a procriação delas, teremos lotes
de animais com perfil zootécnico muito semelhante”, detalha o supervisor do
escritório da Emater-Rio em Italva, Carlos Marconi.
E ainda há benefícios para saúde dos bovinos. No
processo de reprodução natural, a vaca pode ser contaminada por doenças
transmitidas por um touro e vice-versa. Some-se a isso o aumento de
descendentes de um reprodutor de boa procedência. Pelo método natural, um touro
pode gerar até 400 filhotes. Com a inseminação, o número chega a 100 mil. O produtor José Moreira está entusiasmado. A
produção média de seu rebanho é de cinco litros por dia. Com as vacas
inseminadas, pode subir para 25 litros. “Se eu fosse comprar uma vaca de raça,
não sairia por menos do que R$ 7 mil. Não tenho esse dinheiro. Agora que
aprendi a inseminar, não preciso pagar para ninguém aplicar. Eu faço o
serviço”, diz ele.
A preparação da propriedade
O pesquisador da Pesagro-Rio, Pedro Afonso Alves, afirma
que não basta que o produtor domine a técnica para iniciar a inseminação. É
preciso observar previamente a oferta de alimentos para os animais, pois as
vacas especializadas demandam custos maiores, principalmente com o acréscimo de
ração na dieta. O produtor José Maria está atento a isso. Beneficiado
pelo Rio Rural com subprojeto de formação de pastagem, ele começou a plantar
capim há oito meses. “Foi uma grande ajuda. Para ter vaca boa, era preciso
alimentação boa”, complementa.
A seleção dos animais a serem inseminados também é
importante. Desde o primeiro semestre, veterinários da Pesagro-Rio fazem
acompanhamento do rebanho de Italva. Testagens verificam a presença de doenças
como mastite, inflamação na teta das vacas que compromete a qualidade do leite.
“Percebemos que a ocorrência de mastite já caiu 20%. Os animais passaram por
vacinação, alguns foram tratados com antibiótico e já estão respondendo”,
enfatiza a veterinária Lêda Kimura. Em janeiro deste ano, produtores de Italva
receberam gratuitamente mil doses de sêmen de touros de raça. O curso prático
sobre inseminação é mais uma etapa do projeto Intecral, parceria entre o Rio
Rural e o governo alemão, que trabalha para modernizar e desenvolver o interior
fluminense de forma sustentável. Ascom/Rio Rural